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quinta-feira, 22 de março de 2018

A militância poética de Geir Campos

Geir Campos

Exemplo raro de poeta que uniu o rigor estético e literário com a luta social e política, o capixaba Geir Campos – que foi um dos editores do Violão de Rua do CPC da UNE em 1962 – é um desses autores que precisam ser redescobertos e difundidos.

Por José Carlos Ruy


O poeta comunista Geir Campos é um desses raros que conseguem unir o esmero artístico e literário com a expressão de um agudo conteúdo artístico de fundo político e social. Ele viveu entre 1924 e 1999, foi poeta, editor, livreiro, tradutor, professor e militante comunista. Faz parte daquela geração de escritores, poetas principalmente, da chamada geração de 1945, cuja obra floresceu no período da limitada democracia da Constituição de 1946 e que, no futuro, ficou injustamente à sombra de outra corrente que também se firmou naquele período mas que, dada sua ênfase nos aspectos formais do fazer artístico, foi colocada pela propaganda no primeiro plano, o chamado concretismo.

Do ponto de vista formal, tanto a obra de Geir Campos como a de outros que, como ele, colocaram sua arte a serviço da luta democrática e social, não ficam nada a dever aos concretistas. O que os diferencia é uma militância política mais nítida e daí, certamente, o pouco apreço com que, nas últimas décadas, são tratados pela mídia.

Em 2010 comemorou-se os 60 anos de sua estreia em livro: sua primeira coletânea de poemas, Rosa dos Rumos, foli lançada em 1950; este ano, comemora-se também os 60 anos da criação por Geir Campos, juntamente com o poeta Thiago de Melo, da editora Hipocampo, um empreendimento artesanal e revolucionário para a produção, pelos próprios autores, dos livros que escreviam. Em dois anos lançou vinte livros cujos projetos gráficos e editoriais, além evidentemente de seu conteúdo, os transformou hoje em raridades bibliográficas cobiçadíssimas pelos colecionadores. Os livros eram feitos na casa dos criadores da editora, numa impressora manual; suas capas eram dobradas na forma de envelopes onde eram colocadas as folhas avulsas, em edições que tinham em média uma tiragem de 120 exemplares, que eram vendidos antecipadamente, na forma de assinaturas.

Em 1962, Geir Campos foi um dos organizadores, juntamente com outro poeta, Moacyr Félix, dos Cadernos do Povo Brasileiro, Violão de Rua, publicados pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da Une juntamente com a editora Civilização Brasileira. Geir Campos, como diz o professor Aníbal Bragança (Universidade Federal Fluminense), “não foi apenas um artesão da palavra e um operário do canto. Esteve em todas as frentes de ação pelo fortalecimento do livro, como editor, como bibliotecário, como tradutor, como líder da categoria, como professor e como autor. Autor, diga-se, de uma obra sólida e múltipla, rica e diversificada, que marcou a literatura brasileira da segunda metade deste século".


Alguns títulos

Antologia poética. Rio de Janeiro, Léo Christiano Editorial, 2003 (contém praticamente toda a obra poética de Geir Campos)

A Profissão do Poeta & Carta aos Livreiros do Brasil. Rio de Janeiro, Imprensa Oficial, 2002 (organizado por Aníbal Bragança e Maria Lizete dos Santos)

Tarefa. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira; São Paulo, Massao Ohno Editora. 1981 (antologia) 

Um poema:

Poética
Eu quisera ser claro de tal forma
que ao dizer:
              - rosa!
todos soubessem o que haviam de pensar…

Mais: quisera ser claro de tal forma
que ao dizer: 
              - já!
todos soubessem o que haveriam de fazer.
(1957)