Não
pedi para estar aqui. Não pedi para ter consciência de que existo.
Acho que esta é a pior tortura que possa sofrer um humano. Após os
50 anos, o que é o meu caso, tudo é excesso. Excesso de vida, amor,
tristezas e derrotas. Sou um derrotista campeão. Sempre fico do lado
perdedor. Histórias não faltam.
Para não
estourar, de repente, em um suicídio fracassado, sempre busquei as
artes e o álcool. Eles têm um quê de alívio que a tudo supera. As
demais tentativas de fuga, fora desta dupla, se mostraram falhas.
Primeiro
casei, aos dezoito anos – antes disto, em lembranças que não
possuo, tive pólio com um ano de idade – tive filhos, precisei
trabalhar cedo, abandonei a música, ainda em aprendizado incipiente
– mas, hoje tenho a consciência da falta de talento, o que diminui
minhas dores.
A bebida
é uma fuga espetacular, mas o corpo físico não nos compreende.
Talvez por isso aprendi a amar – na verdade não sei o que é o
amor – os livros, os poemas, os romances. Sou, em resumo, um
fugitivo, e enquanto os excessos de anos dão-me vida, diminuo os
sofrimentos através dos livros, pois, covarde para cair fora por
conta própria.