"Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação." (Mário Quintana)
Aos Mestres, com carinho!

Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos
domingo, 31 de março de 2019
Futuros amantes, poema de Chico Buarque
Não
se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
Chico
Buarque
sábado, 30 de março de 2019
O PRIMEIRO LIVRO, poema de Itárcio Ferreira
Choras, lava tua
alma
Inspira, respira, alimenta tuas dores.
No
princípio Deus criou os céus e a terra
E o
primeiro Livro.
E o Livro
não se fez carne
para não
apodrecer, mas, verbos
e
mármores que antecedem escuros.
Tratas
com carinho suas páginas
Que as
promessas futuras se farão presentes.
Sombras
se mostrarão nos caminhos.
És
viajante, portanto estrangeiro,
Não te
fia nos homens, mas no Livro
na pele,
no tato, nas reminiscências.
Itárcio Ferreira
sexta-feira, 29 de março de 2019
Todos os políticos são iguais? Por Alejandro Dolina
"Para quem diz que todos os políticos são os mesmos,eu contesto que para um analfabeto todos os livros são iguais."
quinta-feira, 28 de março de 2019
XXX, poema de Olavo Bilac
Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
Olavo Bilac
Canção, poema de Cecília Meireles
Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo…
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo…
Cecília Meireles
quarta-feira, 27 de março de 2019
Tenta-me de novo, poema de Hilda Hilst
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
Hilda Hilst
terça-feira, 26 de março de 2019
Soneto do amor total, poema de Vinícius de Moraes
Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinícius de Moraes
quinta-feira, 21 de março de 2019
quarta-feira, 20 de março de 2019
03 poemas de Antônio de Pádua
O vira-lata é todo zelo
Não desgruda do carroceiro
Que nem pulga no seu pelo
*****
Na mente do trouxa
Há um parafuso a menos
Ou uma porca frouxa?
*****
Encontrarei o sentido da vida
Entregue à própria sorte
Num leito de morte?
Antônio de Pádua
Antônio de Pádua
segunda-feira, 18 de março de 2019
sábado, 16 de março de 2019
terça-feira, 12 de março de 2019
sexta-feira, 8 de março de 2019
POEMA DA DESPEDIDA, por Frei Betto
Lula e seu netinho Arthur. Foto: Ricardo Stuckert
Para Arthur Lula da Silva
Você pode derramar lágrimas porque ele se foi
Ou pode se alegrar por ele ter vivido.
Você pode fechar os olhos e desejar que ele volte
Ou abrir os olhos e ver tudo que ele deixou.
Ou abrir os olhos e ver tudo que ele deixou.
Seu coração pode estar vazio porque agora você não pode vê-lo
Ou ficar repleto do amor que compartilharam.
Ou ficar repleto do amor que compartilharam.
Você pode voltar as costas ao futuro e viver do passado
Ou ser feliz no futuro por causa do passado.
Ou ser feliz no futuro por causa do passado.
Você pode se lembrar dele e de que ele se foi
Ou cultivar com carinho a sua memória para que ele permaneça.
Ou cultivar com carinho a sua memória para que ele permaneça.
Você pode chorar e se fechar, isolar-se e se queixar
Ou fazer o que ele gostaria: sorrir, abrir os olhos e prosseguir.
Ou fazer o que ele gostaria: sorrir, abrir os olhos e prosseguir.
Frei Betto
sexta-feira, 1 de março de 2019
Meu poema preferido, poema de Carlos Drummond de Andrade
Outro dia me perguntaram qual era meu poema preferido
Não pude responder
Ninguém ousaria entender
Não pude responder
Ninguém ousaria entender
Já li Camões, Fernando Pessoa
Cora Coralina, Vinícius de Moraes
Hilda Hilst, minha conterrânea
Augusto dos Anjos, Paulo Leminski
Manuel Bandeira, Drummond
Gonçalves Dias, Olavo Bilac
Cora Coralina, Vinícius de Moraes
Hilda Hilst, minha conterrânea
Augusto dos Anjos, Paulo Leminski
Manuel Bandeira, Drummond
Gonçalves Dias, Olavo Bilac
Mas meu poema preferido não é de nenhum desses autores
E não está em nenhum livro
E não está em nenhum livro
Meu poema preferido está fora dos padrões literários
É um poema escrito em linhas tortas
Sem métrica, sem regras
Sem ritmo, sem melodia
É um poema escrito em linhas tortas
Sem métrica, sem regras
Sem ritmo, sem melodia
Meu poema preferido não precisa rimar pra ser bonito
Ele não tem estrofes
Tão pouco um título
Ele não tem estrofes
Tão pouco um título
Meu poema preferido é poema só por existir
E não tem um dia sequer que eu não o recite
E não tem um dia sequer que eu não o recite
Meu poema preferido é composto por boas lembranças
Muitos sentimentos
É de carne e osso
E vive em meus pensamentos
Muitos sentimentos
É de carne e osso
E vive em meus pensamentos
Meu poema preferido é livre
Tem sobrenome, endereço, RG
E um par de olhos negros
Que eu não consigo me esquecer
Tem sobrenome, endereço, RG
E um par de olhos negros
Que eu não consigo me esquecer
Pudera eu declama-lo pra todo mundo ouvir
Gritaria em alto e bom tom:
“Esse poema é meu, só meu e de mais ninguém!”
Mas esse poema é tão dele
Que prefiro lê-lo sozinho
E interpretar cada verso
Com a certeza de que ele é único nesse universo
Gritaria em alto e bom tom:
“Esse poema é meu, só meu e de mais ninguém!”
Mas esse poema é tão dele
Que prefiro lê-lo sozinho
E interpretar cada verso
Com a certeza de que ele é único nesse universo
Carlos Drummond de Andrade
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