(Romance)
Para os 3 Manuéis:
Manuel Bandeira
Manuel de Sousa Barros
Manuel Gomes Maranhão
Num
sobrado arruinado,
tristonho, mal assombrado,
que dava pros fundos da terra.
("Pra ver marujos,
Tirulilluliu!
quando vão pra guerra...")
E dava fundos pro mar.
("Pra ver marujos,
Tiruliluliu!
ao desembarcar").
...Morava Manuel Furtado
português apatacado,
com Maria de Alencar!
Maria era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar...
A vida de Manuel,
que louco alguém o dizia,
era vigiar das janelas
toda a noite e todo o dia,
as naus que ao longe passavam,
de "Oropa, França e Bahia"!
— Me dá uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
— Estás idiota, Maria.
Essas naus foram vintena
que eu herdei de minha tia!
por todo o ouro do mundo
eu jamais as trocaria!
Dou-te tudo o que quiseres:
Dou-te xale de Tonquim!
Dou-te uma saia bordada!
Dou-te leques de marfim!
Queijos da Serra da Estrela,
perfumes de benjoim...
Nada.
A mulata só queria
que Seu Manuel lhe desse
uma nauzinha daquelas,
inda a amais pichititinha,
pra ela ir ver essas terras
de "Oropa, França e Bahia"...
— Ó Maria, hoje nós temos
vinhos da Quinta do Aguirre,
umas queijadas de Sintra,
só pra tu te distraíre
desse pensamento ruim...
— Seu Manuel, isso é besteira!
Eu prefiro macaxeira
com galinha de oxinxim!
"Ó lua que alumiais
esse mundo do meu Deus
alumia a mim também
que ando fora dos meus..."
Cantava Seu Manuel
espantando os males seus.
"Eu sou mulata dengosa,
linda, faceira, mimosa,
qual outras brancas não são"...
Cantava forte Maria,
pisando fubá de milho,
lentamente no pilão...
Uma noite de luar
que estava mesmo taful,
mais de 400 naus,
surgiram vindas do Sul...
— Ah, Seu Manuel, isto chega...
Danou-se de escada abaixo,
se atirou no mar azul.
— "Onde vais mulhé?"
— "Vou me daná no carrossé!
— "Tu não vais, mulhé,
mulhé, você não vai lá..."
Maria atirou-se n'água,
Seu Manuel seguiu atrás...
— Quero a mais pichititinha!
— Raios te partam, Maria!
Essas naus são meus tesouros,
ganhou-as matando mouros
o marido de minha tia!
Vêm dos confins do mundo...
De "Oropa, França e Bahia"!
Nadavam de mar em fora...
(Manuel atrás de Maria!)
Passou-se uma hora, outra hora,
e as naus nenhum atingia...
Fez-se um silêncio nas águas,
cadê Manuel e Maria?!
De madrugada, na praia,
dois corpos o mar lambia...
Seu Manuel era um "Boi Morto",
Maria, uma "Cotovia"!
E as naus de Manuel Furtado,
herança de sua tia?
— Continuam mar em fora,
navegando noite e dia...
Caminham para "Pasárgada",
para o reino da Poesia!
Herdou-as Manuel Bandeira,
que ante a minha choradeira,
me deu a menor que havia!
— As eternas Naus do Sonho,
de "Oropa, França e Bahia"...
Ascenso Ferreira
tristonho, mal assombrado,
que dava pros fundos da terra.
("Pra ver marujos,
Tirulilluliu!
quando vão pra guerra...")
E dava fundos pro mar.
("Pra ver marujos,
Tiruliluliu!
ao desembarcar").
...Morava Manuel Furtado
português apatacado,
com Maria de Alencar!
Maria era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar...
A vida de Manuel,
que louco alguém o dizia,
era vigiar das janelas
toda a noite e todo o dia,
as naus que ao longe passavam,
de "Oropa, França e Bahia"!
— Me dá uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
— Estás idiota, Maria.
Essas naus foram vintena
que eu herdei de minha tia!
por todo o ouro do mundo
eu jamais as trocaria!
Dou-te tudo o que quiseres:
Dou-te xale de Tonquim!
Dou-te uma saia bordada!
Dou-te leques de marfim!
Queijos da Serra da Estrela,
perfumes de benjoim...
Nada.
A mulata só queria
que Seu Manuel lhe desse
uma nauzinha daquelas,
inda a amais pichititinha,
pra ela ir ver essas terras
de "Oropa, França e Bahia"...
— Ó Maria, hoje nós temos
vinhos da Quinta do Aguirre,
umas queijadas de Sintra,
só pra tu te distraíre
desse pensamento ruim...
— Seu Manuel, isso é besteira!
Eu prefiro macaxeira
com galinha de oxinxim!
"Ó lua que alumiais
esse mundo do meu Deus
alumia a mim também
que ando fora dos meus..."
Cantava Seu Manuel
espantando os males seus.
"Eu sou mulata dengosa,
linda, faceira, mimosa,
qual outras brancas não são"...
Cantava forte Maria,
pisando fubá de milho,
lentamente no pilão...
Uma noite de luar
que estava mesmo taful,
mais de 400 naus,
surgiram vindas do Sul...
— Ah, Seu Manuel, isto chega...
Danou-se de escada abaixo,
se atirou no mar azul.
— "Onde vais mulhé?"
— "Vou me daná no carrossé!
— "Tu não vais, mulhé,
mulhé, você não vai lá..."
Maria atirou-se n'água,
Seu Manuel seguiu atrás...
— Quero a mais pichititinha!
— Raios te partam, Maria!
Essas naus são meus tesouros,
ganhou-as matando mouros
o marido de minha tia!
Vêm dos confins do mundo...
De "Oropa, França e Bahia"!
Nadavam de mar em fora...
(Manuel atrás de Maria!)
Passou-se uma hora, outra hora,
e as naus nenhum atingia...
Fez-se um silêncio nas águas,
cadê Manuel e Maria?!
De madrugada, na praia,
dois corpos o mar lambia...
Seu Manuel era um "Boi Morto",
Maria, uma "Cotovia"!
E as naus de Manuel Furtado,
herança de sua tia?
— Continuam mar em fora,
navegando noite e dia...
Caminham para "Pasárgada",
para o reino da Poesia!
Herdou-as Manuel Bandeira,
que ante a minha choradeira,
me deu a menor que havia!
— As eternas Naus do Sonho,
de "Oropa, França e Bahia"...
Ascenso Ferreira