La femme damnée
é um óleo sobre tela de autoria
do francês Octave Tassaert
e foi pintado em 1859.
Há,
ainda, entre alguns, controvérsia sobre determinados temas serão ou não capazes
de conter poesia. Um exemplo é: a pornografia pode ser poética? Dylan Thomas,
poeta galês, disse certa vez: “poesia é aquilo que me faz rir, chorar ou uivar,
aquilo que me arrepia as unhas do dedo do pé, o que me leva a desejar fazer
isso ou aquilo, ou nada”. Não poderíamos dizer, portanto, que o gozo, o
orgasmo, o fetiche ou tudo aquilo que possa dar prazer a isso ou aquilo, ou
nada, seriam também temas poéticos?
Nossa
sociedade tende a tornar antipoético tudo o que nossa moral condena. A morte,
um dos maiores medos do homem e assunto que não agrada muitas conversas, foi
tema de grandes poetas como Fernando Pessoa, Augusto dos Anjos, Florbela
Espanca, Cecília Meireles. Não obstante, muitos poetas renomados também
trataram do gozo, dos órgãos sexuais e das liberdades de gênero e sexualidade
de forma poética: Aretino, Bocage, Alexandre O'Neill, António Botto, E. M. de
Melo e Castro, Hilda Hilst, Glauco Mattoso. Mas por que os cadernos literários
aceitam como poesia apenas o dito erotismo velado? Se o horror da guerra com
corpos mutilados e terras ensanguentadas pode ser um tema retratado da forma
mais bela, ainda que cause indignidade e repulsa, não pelo autor da obra, mas
por aqueles capazes de tal monstruosidade, por que não as taras sexuais e suas
formas mais belas ou horrendas?
O
sexo dos outros é feio e condenável, e a isso chamamos pornografia. Essa é uma
realidade ainda latente em muitos cantos do mundo. Não adianta o quanto
dissermos ser liberais, libertinos ou despudorados, a moral no século XXI ainda
condena a nudez e as práticas sexuais. Não importa se “Cinquenta Tons de Cinza”
se tornou um bestseller em todo o mundo, o sexo ainda é tabu que revira olhares
quando ouvido no metrô, na praça de alimentação de um shopping, em uma conversa
de família, ou, ainda, se nas redes sociais escapam alguns biquinhos de seios
em uma foto.
Nesse
contexto, um poeta brasileiro chamado Vinni Corrêa vem esforçando-se com sua
obra para que o mundo literário aceite o linguajar tido como pornográfico
também como possível no campo poético. O autor comenta que um poeta jamais
poderia condenar qualquer que seja a palavra uma vez que não é aceitável
arbitrariedade na língua no fazer poético. Ao contrário, a palavra deve ser
extrapolada e alcançar níveis além daqueles impostos pela comunicação
cotidiana. “Concordo quando Boris Vian afirmou que a pornografia existe para
aquele que a procura e que a enxerga mesmo onde ela não há. A palavra não
define a poesia, pois é a poesia que rompe com as raízes da palavra, permitindo
que uma semente de abacaxi gere uma pedra de diamante ou uma lava de um
vulcão”.
Vinni
Corrêa nasceu em 1981, no Rio de Janeiro, e é autor de três livros de poesia
erótica: “Coma de 4”, de 2012, “Literatura de Bordel” e “Lunch Box”, ambos de
2015. Está previsto para o final de 2017 seu quarto livro, “Sexo a Três”. O
poeta organiza em sua cidade o sarau “Fresta Literária – sarrau de poesia
erótica”, promovendo a poesia erótica. Abaixo, alguns poemas de Vinni Corrêa:
Gozo
Sincronizado, do livro Coma de 4
Ambos
os lábios se tocam
As
mãos dele apalpam os seios dela
As
mãos dela alisam os mamilos dele
As
dela descem para o pênis
As
dele descem para a vagina
Tocam-se
Umedecem
Juntos
sussurram um no ouvido do outro
Os
dedos falam uma mesma língua
As
pernas os mesmos sinais entrelaçados
Num
vaivémvemvai do corpo
Suando
gemidos por toda a pele
Contorcem
como em uma dança
A
língua dele baila no minete
A
língua dela valsa no broche
A
dela engole o jorro
A
dele também
Fio
Solto, do livro Coma de 4
Um
fio
Solto
Decai
Certeiro
Na
linha da
Curva
do
Ânus
O
fio
Espiralado
Cocegando
O
esfíncter
Estreitinho
Da
bela menina
Que
no
Sono
Fantasia
A
piroca
Mais
grossa
Penetrando
O
seu
Cu
Por
Que Não as Panturrilhas?, do livro Coma de 4
Por
que são as bundas
Bundas
bundas bundas e bundas
E
os peitos
Peitos
peitos peitos e peitos
Femininos
A
chamarem mais a atenção dos homens?
Por
que não os joelhos
Redondinhos
dobradiços
Para
ela rezar para ela felar?
Por
que não os tornozelos
Onde
os finos - dizem
São
daquelas que dão boa comida?
Por
que não as orelhas
Pequeninas
conchinhas
Lubrificadas
com o marulho das palavras?
Por
que não os cabelos
Lisos
crespos encaracolados
Perfumados
e a grudar no corpo no suor do sexo?
Por
que não as panturrilhas
Brilhantes
reinantes em uma meia-calça
Que
a leve mão desliza até as coxas?
Quando
Beijo Tua Boca, do livro Coma de 4
Quando
beijo tua boca
Toda
nua feito quando
Beijo
tua boca
Toda
nua feito beijo
Tua
boca
Toda
nua feito tua
Boca
Toda
nua feito boca
A
Cereja do Bolo, do livro Coma de 4
Por
que querer ser a cereja do bolo se tu mulher podes ser o fiapo de manga em
minha boca?
Sem
Rodeios, do livro Coma de 4
A
menina foi à tourada
E
impressionou-se com o bovídeo peniano
Diante
de toda a gadaria
Pareceu
manso e inofensivo o bichano
Então
montou ela naquela corcova
Alisando
o duro couro
Empinada
a anca rebolava fogosa
Empolgava
e dominava o Deus Touro
Ela
trepada e ele bufando
Na
faena
O
bicho agitou agitou agitou
Ela
cambaleava no meio da arena
Debatia-se
em espasmos
Na
lide da tourada
Já
que touro alvo
A
prenda fora derrubada
tem
culpa eu?, do livro Literatura de Bordel
cu
é cego, não tem culpa.
não
tem deuses, não tem templo.
não
tem razão, não tem culpa.
mas
quem dá o seu de exemplo?
licitação
licenciosa, do livro Literatura de Bordel
ela
pôs a virgindade
para
venda no leilão.
as
pregas, com pouca idade,
já
anunciava pregão.
autosomagrafia,
do livro Literatura de Bordel
o
poeta é um gozador.
goza
tão abertamente
que
chega a gozar com dor,
a
dor que o cabaço sente.
vida
fácil, do livro Literatura de Bordel
prostituta
é um ofício
difícil
de labutar.
vai
batente em orifício
que
não dá pra lá botar.
rosa
bebê, do livro Literatura de Bordel
tão
rosada essa bochecha,
dá
vontade de apertar.
mas
é mesmo uma boceta
que
faz meu pau corar.
o
galanteio, do livro Literatura de Bordel
um
galo, bom ciscador,
botou
no cu da galinha
um
cisco tão varador,
que
de gala a pôs pra rinha.
karma
sutra, do livro Literatura de Bordel
uma
estranha sensação
de
que já vi este cu.
ou
de outra encarnação,
ou
é mero deja vu.
violeta,
do livro Literatura de Bordel
no
letreiro do bordel,
pisca
nome em luz neon.
escrevi-o
num papel
cor
lilás do seu batom.
essência,
do livro Lunch Box
o
cheiro que te perfuma
tem
meu sexo
na
assinatura
meia-verdade,
do livro Lunch Box
meia-verdade
é uma cinta-liga
nas
pernas de um travesti
a
nova mulher, do livro Lunch Box
750
ml de silicone
nos
seios e 30 cm
de
prótese na cona
pagando
de voyeur, do livro Lunch Box
a
transa
quanto
custa
se
for a vista?
medida
do amor, do livro Lunch Box
todo
o seu peso
em
cima do meu corpo
me
dá a leveza
de
estar no topo
estética,
do livro Lunch Box
até
uma deusa
como
Afrodite
tinha
celulite
erosão,
do livro Lunch Box
minha
cachoeira
tem
uma queda
pelo
seu lago
descobertos,
do livro Lunch Box
apaga-se
a luz
nossos
corpos nus
se
sombra de dúvida
masturbador,
do livro Sexo a Três
poeta
de boa escrita
nunca
escreve “punheta”
palavra
já muito batida
a
casa-lar, do livro Sexo a Três
suas
arqui tetas
desenham
a morada
onde
ponho mãos à obra
beijo
persa, do livro Sexo a Três
no
tapete do seu corpo
eu
voo
por
linguadas
CEP,
do livro Sexo a Trê
as
putas de rua
têm
mais endereço fixo
que
o meu coração
Mais
sobre o autor:
Vinni
Corrêa
Sobre
Vinni Corrêa: pós-graduando em Psicanálise e Ciências Humanas, pós-graduado em
Marketing e Comunicação Empresarial, graduado em Comunicação Social (ênfase em
Jornalismo).
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Assessoria
Literária
Julia
Antunes Braga