os
portais do terceiro milênio
(do vestíbulo
do)
(do vestíbulo
do)
rodam
sobre seus rodízios de três zeros
acoplados
em c a u d a de cometa
a um dois redondo
rodam os signos do zodíaco
atiçando a cósmica
esfagulhante
tocha augural
a um dois redondo
rodam os signos do zodíaco
atiçando a cósmica
esfagulhante
tocha augural
o
princípio-esperança
pilastra esquerda do portal
e a moura-desespero
pilastra à direita
sustentam ambas
(discordante concórdia)
os portões que rangem
sobre os três
zeros esféricos
onde o sûnya o
vazio búdico
esbranca
como olho de águia
absorto em redondos
plenissóis:
o olho e o astro
se contrespelham
pilastra esquerda do portal
e a moura-desespero
pilastra à direita
sustentam ambas
(discordante concórdia)
os portões que rangem
sobre os três
zeros esféricos
onde o sûnya o
vazio búdico
esbranca
como olho de águia
absorto em redondos
plenissóis:
o olho e o astro
se contrespelham
um
dois brônzeo
dupla garra de gonzos
articula os portais
enquanto os rodízios cantam
a música plangente dos batentes
que se entreabrem
no engaste dobradiço
dos quícios bronzefúlgidos
dupla garra de gonzos
articula os portais
enquanto os rodízios cantam
a música plangente dos batentes
que se entreabrem
no engaste dobradiço
dos quícios bronzefúlgidos
o
anjo-esperança
e a gárgula-desespero
se confrontam
no aprazado convergir do
calendário
e a gárgula-desespero
se confrontam
no aprazado convergir do
calendário
ao
longo do estepário
do futuro que se entre-
mostra vaziopleno de latentes
acasos
o anjo e a gárgula se defrontam
do futuro que se entre-
mostra vaziopleno de latentes
acasos
o anjo e a gárgula se defrontam
do
mais fundo
dos séculos a voz do sábio melancólico
soa ainda
ressoa
ainda
como antes
no entrecéu do porvir
que sibila seu enigma:
a voz velha do sabedor-
-das-coisas repete
seu refrão que o trânsito
das centúrias só fez
confirmar como caixa-
-de ecos:
dos séculos a voz do sábio melancólico
soa ainda
ressoa
ainda
como antes
no entrecéu do porvir
que sibila seu enigma:
a voz velha do sabedor-
-das-coisas repete
seu refrão que o trânsito
das centúrias só fez
confirmar como caixa-
-de ecos:
"e
eu me voltei
eu / e vi /
toda a opressão //
que é feita / sob o
sol ///
e eis o choro dos oprimidos /
e não há para eles / conforto //
e da mão que os oprime /
força //
e não há para eles /
conforto"
eu / e vi /
toda a opressão //
que é feita / sob o
sol ///
e eis o choro dos oprimidos /
e não há para eles / conforto //
e da mão que os oprime /
força //
e não há para eles /
conforto"
o
anjo-esperança recua
em sua armadura de diamante
a gárgula-desespero jubila
no seu gótico esqueleto de pedra
em sua armadura de diamante
a gárgula-desespero jubila
no seu gótico esqueleto de pedra
:
"aquilo que já foi /
é aquilo que será //
e aquilo que será //
e aquilo que foi feito //
aquilo /
se fará ///
e não há nada de novo /
sob o sol" -
prossegue o-que-sabe
por entre as névoas
do nada
é aquilo que será //
e aquilo que será //
e aquilo que foi feito //
aquilo /
se fará ///
e não há nada de novo /
sob o sol" -
prossegue o-que-sabe
por entre as névoas
do nada
o
arcanjo-esperança
tomado de sagrado
furor
flameja sua espada
multicentelhante
e rasga um claro
no ob-
nubilado
horizonte onde
se engendra o
f u t u r o
tomado de sagrado
furor
flameja sua espada
multicentelhante
e rasga um claro
no ob-
nubilado
horizonte onde
se engendra o
f u t u r o
a
gárgula guincha
no seu nicho de pedra -
na lâmina
coruscante do gládio lê-se
cravejado em estrelas :
"a esperança existe
por causa dos desesperados"
no seu nicho de pedra -
na lâmina
coruscante do gládio lê-se
cravejado em estrelas :
"a esperança existe
por causa dos desesperados"
Notas
do autor
1 - O "sábio melancólico" é o autor anônimo do "Eclesiastes" ("Qohélet", em hebraico). Cito um excerto de minha recriação do capítulo 4 desse "poema sapiencial" bíblico (cf. "Qohélet / O-Que-Sabe / Eclesiastes", Perspectiva, São Paulo, 1990).
2- Adaptei à conclusão de meu poema uma formulação extraída do ensaio de Walter Benjamin sobre "As Afinidades Eletivas", de Goethe, datado de 1925 (W.B., "Gesammelte Schriften, vol. 1, Suhrkamp, Frankfurt, 1974).