Via hypeness
A
predominância de autores europeus em estudos de filosofia nas
universidades e escolas é tamanha que é como se simplesmente não
existissem filósofos em outras regiões do mundo. E assim, riquezas
culturais, críticas, intelectuais e de identidade simplesmente
permanecem desconhecidas para o resto do mundo, diminuindo assim o
próprio mundo – como é o caso da produção filosófica e crítica
oriunda da África.
Parte
desse problema começa na própria barreira da língua, e foi
pensando nisso que Wanderson Flor do Nascimento, professor de
filosofia da Universidade de Brasília, criou o site Filosofia
Africana,
oferecendo obras de filósofos do continente.
O
próprio Wanderson se viu diante de tal dificuldade ao realizar um
estudo. Segundo o professor, a maioria dos trabalhos só era
oferecida em inglês e francês. Além de permitir o acesso às
obras, o site pretende intensificar os estudos da cultura africana
nas escolas e universidades brasileiras – dialogando as filosofias
africanas com os currículos locais de estudos filosóficos.
Para
Wanderson, a presença da filosofia africana não só aumenta o
repertório dos alunos e professores – especialmente diante do tão
pouco que sabemos sobre cultura africana de forma geral – como
ajuda a entender esse legado. “Sobretudo, ajuda a desconstruir o
racismo velado que paira em nossa sociedade”, ele diz.
Autores
como o sul-africano Mogobe Ramose, o camaronês Jean-Godefroy Bidima,
as epistemólogas e antropólogas nigerianas Oyèrónké Oyěwùmí e
Ifi Amadiume, os moçambicanos José Paulino Castiano e Severino
Ngoenha são os primeiros nomes indicados por Wanderson para se
conhecer através do site. Em um país com a história que tem o
Brasil, se debruçar sobre aspecto tão denso e significativo da
cultura africana como a filosofia, e permitir o acesso de estudantes
a esse material é também estudar o próprio Brasil e o mundo –
real, e não só do ponto de vista eurocêntrico.