Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Um saber simples verticaliza a luz, poema de Inaldo Cavalcanti



No carrossel inerte – humílimo mistério.
Eis um rosto.

A loucura que o ríctus do Atlântico
Traduz em espumas – preciso golpe.
Eis o mesmo rosto.

Algo magoado cadencia a vida
E o recife ensina o êxtase silencioso do olhar


Inaldo Cavalcanti

Flaviola e o Bando do Sol - "Flaviola e o Bando do Sol" - 1974



1. Canto Fúnebre 00:00
2. O Tempo 03:17
3. Noite 04:57
4. Desespero 07:48
5. Canção de Outona 10:31
6. Do Amigo 12:04
7. Brilhante Estrela 14:41
8. Como os Bois 17:19
9. Palavras 18:10
10. Balalaica 21:15
11. Olhos 24:01
12. Romance da Lua Lua 25:11
13. Asas (Prá Que Te Quero?) 28:07

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

01 haicai de Antônio de Pádua


A superfície do mar

A brisa enverniza

O luar não bate, alisa.


Antônio de Pádua

John Lennon (1975) -" Rock N Roll"


1. John Lennon - Be-Bop-A-Lula 
2. John Lennon - Stand By Me 
3. John Lennon - Medley: Rip It Up/Ready Teddy 
4. John Lennon - You Can't Catch Me 
5. John Lennon - Ain't That A Shame 
6. John Lennon - Do You Wanna Dance 
7. John Lennon - Sweet Little Sixteen 
8. John Lennon - Slippin' And Slidin' 
9. John Lennon - Peggy Sue 
10. John Lennon - Medley: Bring It On Home To Me/Send Me Some Lovin' 
11. John Lennon - Bony Moronie 
12. John Lennon - Ya Ya 
13. John Lennon - Just Because 
14. John Lennon - Angel Baby 
15. John Lennon - To Know Her Is To Love Her 
16. John Lennon - Since My Baby Left Me 
17. John Lennon - Just Because (Reprise)

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Cidadezinha Qualquer, poema de Carlos Drummond de Andrade


Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar… as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.


Carlos Drummond de Andrade

Lula Côrtes - "O Gosto Novo da Vida" (1981)


01 - 00:00 "Desengano"
02 - 
03:48 "Dos Inimigos"
03 - 
07:23 "Lua Viva"
04 - 
10:51 "São Várias as Trilhas"
05 - 
13:48 "Patativa"
06 - 
16:49 "Canção da Chegada"
07 - 
19:19 "Quadrilha Atômica"
08 - 
22:24 "Brilhos e Mistérios"
09 - 
25:03 "Gira a Cabeça"
10 - 
28:22 "O Morcego"

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Ave Sangria (Álbum Completo)



00:00 Dois Navegantes 
02:52 Lá fora 
05:32 Três Margaridas 
08:22 O Pirata 
11:18 Momento Na Praça 
15:35 Cidade Grande 
20:04 Seu Waldir 
22:20 Hey Man 
25:15 Por Que? 
29:51 Corpo em Chamas 
32:55 Geórgia, a Carniceira 
35:39 Sob o Sol de Satã

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Banho de Chuva, poema de José Maria Almeida Marques



Menino no sertão da seca
Ficava rezando prá São José
-Mande chuva, meu santinho.

Mas eu nem tinha roçado
E só queria chuva na cidade
Prá ir tomar banho na rua.

Aí eu chamava Mariinha
-Vem brincar de chuva mais eu.
E ela vinha, só de calcinha.

O tempo passou tão tirano 
Mas inda gosto brincar de chuva.
Adonde andará Mariinha?

José Maria Almeida Marques

Maria Luiza - "Sonífera Ilha"

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Auto-Retrato, poema de Manuel Bandeira



Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.

Manuel Bandeira

SARAU DA BOA VISTA - 50ª EDIÇÃO - 02/12/1027


terça-feira, 14 de novembro de 2017

02 haicais de Antônio de Pádua


A Lua míngua
Numa rua estreita
A morte espreita

*****

Haikai no sinal

Sobressalto
Aí bacana
É um assalto!

Antônio de Pádua

domingo, 12 de novembro de 2017

Para uma poética libertária. Pode haver poesia na pornografia e pornografia na poesia?

La femme damnée 
é um óleo sobre tela de autoria 
do francês Octave Tassaert 
e foi pintado em 1859.

Há, ainda, entre alguns, controvérsia sobre determinados temas serão ou não capazes de conter poesia. Um exemplo é: a pornografia pode ser poética? Dylan Thomas, poeta galês, disse certa vez: “poesia é aquilo que me faz rir, chorar ou uivar, aquilo que me arrepia as unhas do dedo do pé, o que me leva a desejar fazer isso ou aquilo, ou nada”. Não poderíamos dizer, portanto, que o gozo, o orgasmo, o fetiche ou tudo aquilo que possa dar prazer a isso ou aquilo, ou nada, seriam também temas poéticos?

Nossa sociedade tende a tornar antipoético tudo o que nossa moral condena. A morte, um dos maiores medos do homem e assunto que não agrada muitas conversas, foi tema de grandes poetas como Fernando Pessoa, Augusto dos Anjos, Florbela Espanca, Cecília Meireles. Não obstante, muitos poetas renomados também trataram do gozo, dos órgãos sexuais e das liberdades de gênero e sexualidade de forma poética: Aretino, Bocage, Alexandre O'Neill, António Botto, E. M. de Melo e Castro, Hilda Hilst, Glauco Mattoso. Mas por que os cadernos literários aceitam como poesia apenas o dito erotismo velado? Se o horror da guerra com corpos mutilados e terras ensanguentadas pode ser um tema retratado da forma mais bela, ainda que cause indignidade e repulsa, não pelo autor da obra, mas por aqueles capazes de tal monstruosidade, por que não as taras sexuais e suas formas mais belas ou horrendas?

O sexo dos outros é feio e condenável, e a isso chamamos pornografia. Essa é uma realidade ainda latente em muitos cantos do mundo. Não adianta o quanto dissermos ser liberais, libertinos ou despudorados, a moral no século XXI ainda condena a nudez e as práticas sexuais. Não importa se “Cinquenta Tons de Cinza” se tornou um bestseller em todo o mundo, o sexo ainda é tabu que revira olhares quando ouvido no metrô, na praça de alimentação de um shopping, em uma conversa de família, ou, ainda, se nas redes sociais escapam alguns biquinhos de seios em uma foto.

Nesse contexto, um poeta brasileiro chamado Vinni Corrêa vem esforçando-se com sua obra para que o mundo literário aceite o linguajar tido como pornográfico também como possível no campo poético. O autor comenta que um poeta jamais poderia condenar qualquer que seja a palavra uma vez que não é aceitável arbitrariedade na língua no fazer poético. Ao contrário, a palavra deve ser extrapolada e alcançar níveis além daqueles impostos pela comunicação cotidiana. “Concordo quando Boris Vian afirmou que a pornografia existe para aquele que a procura e que a enxerga mesmo onde ela não há. A palavra não define a poesia, pois é a poesia que rompe com as raízes da palavra, permitindo que uma semente de abacaxi gere uma pedra de diamante ou uma lava de um vulcão”.

Vinni Corrêa nasceu em 1981, no Rio de Janeiro, e é autor de três livros de poesia erótica: “Coma de 4”, de 2012, “Literatura de Bordel” e “Lunch Box”, ambos de 2015. Está previsto para o final de 2017 seu quarto livro, “Sexo a Três”. O poeta organiza em sua cidade o sarau “Fresta Literária – sarrau de poesia erótica”, promovendo a poesia erótica. Abaixo, alguns poemas de Vinni Corrêa:

Gozo Sincronizado, do livro Coma de 4

Ambos os lábios se tocam
As mãos dele apalpam os seios dela
As mãos dela alisam os mamilos dele
As dela descem para o pênis
As dele descem para a vagina

Tocam-se
Umedecem

Juntos sussurram um no ouvido do outro
Os dedos falam uma mesma língua
As pernas os mesmos sinais entrelaçados
Num vaivémvemvai do corpo
Suando gemidos por toda a pele
Contorcem como em uma dança
A língua dele baila no minete
A língua dela valsa no broche
A dela engole o jorro
A dele também


Fio Solto, do livro Coma de 4

Um fio
Solto
Decai
Certeiro
Na linha da
Curva do
Ânus
O fio
Espiralado
Cocegando
O esfíncter
Estreitinho
Da bela menina
Que no
Sono
Fantasia
A piroca
Mais grossa
Penetrando
O seu
Cu


Por Que Não as Panturrilhas?, do livro Coma de 4

Por que são as bundas
Bundas bundas bundas e bundas
E os peitos
Peitos peitos peitos e peitos
Femininos
A chamarem mais a atenção dos homens?
Por que não os joelhos
Redondinhos dobradiços
Para ela rezar para ela felar?
Por que não os tornozelos
Onde os finos - dizem
São daquelas que dão boa comida?
Por que não as orelhas
Pequeninas conchinhas
Lubrificadas com o marulho das palavras?
Por que não os cabelos
Lisos crespos encaracolados
Perfumados e a grudar no corpo no suor do sexo?
Por que não as panturrilhas
Brilhantes reinantes em uma meia-calça
Que a leve mão desliza até as coxas?


Quando Beijo Tua Boca, do livro Coma de 4

Quando beijo tua boca
Toda nua feito quando
Beijo tua boca
Toda nua feito beijo
Tua boca
Toda nua feito tua
Boca
Toda nua feito boca


A Cereja do Bolo, do livro Coma de 4

Por que querer ser a cereja do bolo se tu mulher podes ser o fiapo de manga em minha boca?


Sem Rodeios, do livro Coma de 4

A menina foi à tourada
E impressionou-se com o bovídeo peniano
Diante de toda a gadaria
Pareceu manso e inofensivo o bichano
Então montou ela naquela corcova
Alisando o duro couro
Empinada a anca rebolava fogosa
Empolgava e dominava o Deus Touro
Ela trepada e ele bufando
Na faena
O bicho agitou agitou agitou
Ela cambaleava no meio da arena
Debatia-se em espasmos
Na lide da tourada
Já que touro alvo
A prenda fora derrubada


tem culpa eu?, do livro Literatura de Bordel

cu é cego, não tem culpa.
não tem deuses, não tem templo.
não tem razão, não tem culpa.
mas quem dá o seu de exemplo?


licitação licenciosa, do livro Literatura de Bordel

ela pôs a virgindade
para venda no leilão.
as pregas, com pouca idade,
já anunciava pregão.


autosomagrafia, do livro Literatura de Bordel

o poeta é um gozador.
goza tão abertamente
que chega a gozar com dor,
a dor que o cabaço sente.


vida fácil, do livro Literatura de Bordel

prostituta é um ofício
difícil de labutar.
vai batente em orifício
que não dá pra lá botar.


rosa bebê, do livro Literatura de Bordel

tão rosada essa bochecha,
dá vontade de apertar.
mas é mesmo uma boceta
que faz meu pau corar.


o galanteio, do livro Literatura de Bordel

um galo, bom ciscador,
botou no cu da galinha
um cisco tão varador,
que de gala a pôs pra rinha.


karma sutra, do livro Literatura de Bordel

uma estranha sensação
de que já vi este cu.
ou de outra encarnação,
ou é mero deja vu.


violeta, do livro Literatura de Bordel

no letreiro do bordel,
pisca nome em luz neon.
escrevi-o num papel
cor lilás do seu batom.


essência, do livro Lunch Box

o cheiro que te perfuma
tem meu sexo
na assinatura


meia-verdade, do livro Lunch Box

meia-verdade é uma cinta-liga
nas pernas de um travesti


a nova mulher, do livro Lunch Box

750 ml de silicone
nos seios e 30 cm
de prótese na cona


pagando de voyeur, do livro Lunch Box

a transa
quanto custa
se for a vista?


medida do amor, do livro Lunch Box

todo o seu peso
em cima do meu corpo
me dá a leveza
de estar no topo


estética, do livro Lunch Box

até uma deusa
como Afrodite
tinha celulite


erosão, do livro Lunch Box

minha cachoeira
tem uma queda
pelo seu lago


descobertos, do livro Lunch Box

apaga-se a luz
nossos corpos nus
se sombra de dúvida


masturbador, do livro Sexo a Três

poeta de boa escrita
nunca escreve “punheta”
palavra já muito batida


a casa-lar, do livro Sexo a Três

suas arqui tetas
desenham a morada
onde ponho mãos à obra


beijo persa, do livro Sexo a Três

no tapete do seu corpo
eu voo
por linguadas


CEP, do livro Sexo a Trê

as putas de rua
têm mais endereço fixo
que o meu coração


Mais sobre o autor:

Vinni Corrêa
Sobre Vinni Corrêa: pós-graduando em Psicanálise e Ciências Humanas, pós-graduado em Marketing e Comunicação Empresarial, graduado em Comunicação Social (ênfase em Jornalismo).


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Assessoria Literária
Julia Antunes Braga