Aos Mestres, com carinho!

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Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

quinta-feira, 26 de maio de 2016

REFÚGIO, poema de Priscila Merizzio

Priscila Merizzio

os deuses protegem meu corpo
como o tapume circunscreve a catedral gótica

múmias apoteóticas
via régia de papiros a.C.
refúgio do bardo pagão

na abóbada
longe das trincheiras da revolução francesa
homens verdes urinam

de mármore, rezas, artilharia e gana
faz-se o caos

os deuses protegem meu corpo
irrevogavelmente politeísta
como os índios costuram
palmeiras nas ocas

espectros melífluos batizados no círculo mágico
desmistificação de aporias
jesuítas poluíram rios amazônicos com água benta
botos-cor-de-rosa engravidaram índias com sêmen europeu

os deuses protegem meu corpo
com o apetite irascível
dos elefantes africanos que
acossam as fêmeas

avançam com peso e presas
estraçalham carros e pessoas
trombas bramindo:
"afastem-se do que é meu".

Priscila Merizzio