Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

terça-feira, 24 de maio de 2016

Divã, poema de Viviane Barroso



Há um medo escondido
No papel que a Mulher carrega
Nas bordas do seu vestido.
Há um quase existir
Preso nas suas costuras malfeitas.
Há uma identidade inaudível
Ressoando lúcida
Pelas pregas amassadas da sua saia
Querendo virar poema.
Há a nula pretensão
Dilacerada pelo silêncio
Abrigado debaixo da sua nudez
Pura e retalhada,
Quase nada,
Árvore ainda
Antes de ser divã.
Há na Mulher poesia.
Essa brisa imatura
Que balança suas vestes
Até que o Tempo possa desaparecer
Porque há nela o trauma do espelho.
E seu ventre cansado implora sossego
Numa voz submissa
Que se esvai querendo virar palavra.
Mulher que cala.
E atravessa toda ponte
Para tocar a linha reta de um horizonte
Onde caibam os versos de eternidade
De suas sempre esquecidas promessas.


Viviane Barroso