Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

sexta-feira, 24 de junho de 2016

O Guesa errante canto I, poema de Sousândrade


Eia, imaginação divina! 
Os Andes 
Vulcânicos elevam cumes calvos, 
Circundados de gelos, mudos, alvos, 
Nuvens flutuando – que espetac’los grandes! 
Lá onde o ponto do condor negreja, 
Cintilando no espaço como brilhos 
D’olhos, e cai a prumo sobre os filhos 
Do lhama descuidado; onde deserto, 
O azul sertão, formoso e deslumbrante, 
Arde do sol o incêndio, delirante 
Coração vivo em céu profundo aberto! 
“Nos áureos tempos, nos jardins da América 
Infante adoração dobrando a crença 
Ante o belo sinal, nuvem ibérica 
Em sua noite a envolveu ruidosa e densa. 
“Cândidos Incas! Quando já campeiam 
Os hérois vencedores do inocente 
Índio nu; quando os templos s’incendeiam, 
Já sem virgens, sem ouro reluzente, 
“Sem as sombras dos reis filhos de Manco, 
Viu-se… (que tinham feito? e pouco havia 
A Fazer-se…) num leito puro e branco 
A corrupção, que os braços estendia! 
“E da existência meiga, afortunada, 
O róseo fio nesse albor ameno 
Foi destruído. Como ensaguentada 
A terra fez sorrir ao céu sereno! 
“Foi tal a maldição dos que caídos 
Morderam dessa mãe querida o seio, 
A contrair-se aos beijos, denegridos, 
O desespero se imprimi-los veio, - 
“Que ressentiu-se verdejante e válido, 
O floripôndio em flor; e quando o vento 
Mugindo estorce-o doloroso, pálido, 
Gemidos se ouvem no amplo firmamento! 
“E o sol, que resplandece na montanha 
As noivas não encontra, não se abraçam 
No puro amor; e os fanfarrões d’Espanha, 
Em sangue edêneo os pés lavando, passam.