Andava triste, por nunca conseguir um agente para
os meus poemas,
tudo parecia tão fácil na biografia dos poetas
mortos.
Peguei o meu copo com uísque, entre as trêmulas
mãos dos meus cinquent’anos,
pensei num suicídio ou num bolero: melhor um gole.
Busquei refugio nos meus livros, tantos deles
desertaram a esta hora da batalha,
mas aqueles que ficaram diante de minha
decadência anônima, animaram-me.
Abriu-os, livres como um corpo que dança ou se
joga ao infinito espaço,
o tempo, instrumento de nossas alucinações,
engana-nos na sua imensidão.
O gelo, o copo, a mão trêmula, a ingestão da
substância efêmera,
como efêmera é a nossa existência posta aos cinco
sentidos,
animal faminto, o homem, a mulher, a libido, o
som, o que é desvairado.
Abro um livro, um poema de Quintana, por que o
busco: ingrata solidão, uísque barato?
Traças, suores, medos de uma nova ditadura, a
falta de água e um novo pré 39,
sem a Santa Madre URSS, sem os maquis, sem Apolônio de
Carvalho.
Itárcio Ferreira