Bordo as ondas do cais
O sol, qual serpente
enrolada no horizonte,
Fere o mastro de Brennand
Corro nas calçadas do
bordado
Quando ventos
enlouquecidos
Misto de maresia e cetim
Chegam nos corvos
fantasiados
Bordo o cheiro da chuva
Nas folhas de alecrim
E cachoeiras tranças na
menina
Vestida de por de sol
Subo as ribanceiras
Com os meninos verdes de
cola e fome
E nessa trama me perco nos
becos
Chego ao ponto alto
Maneira de viver
prisioneira
Dos arranha-céus, irmãos
dos pássaros
Esperança de um dia
A lei dos vencidos subir a
ladeira
Sem agulha, seda, nem
ponto-de-cruz
E as madames das academias
Com os medos presos nos
músculos
Amamentarem os dias
Com seios inúteis de
cirurgias
Bordo todos os dias o amor
Com o cordão das veias
E espero-te no abraço dos
rios.
Fátima Ferreira