Imagem de perfil do escritor Machado de Assis em 1904 (Foto: Divulgação)
Antonio Maura
fará conferência no Egito para falar do brasileiro. Sócio correspondente da
Academia Brasileira de Letras, ele diz que o autor ainda é ‘um grande
desconhecido’.
Publicado no G1 - 05/05/2017
Escritor e crítico espanhol, Antonio Maura
acredita que Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), o grande gênio da
literatura brasileira, não foi devidamente valorizado pela crítica e mereceria
ser reconhecido como um dos melhores escritores do século XIX.
“Acho que Machado é um dos grandes nomes do
século XIX. Não acredito que se compare nem a [Charles] Dickens, [Honoré de]
Balzac, Eça de Queiroz ou ao nosso [Benito Pérez] Galdós. São grandes
escritores, mas estão abaixo nos quesitos riqueza, crítica e análise da
sociedade e versatilidade. Não chegam aos pés”, diz.
Sócio correspondente da Academia Brasileira de
Letras, Maura está no Cairo para a conferência “El autor y sus máscaras: Una
aproximación a Cervantes y Machado de Assis” (“O autor e suas máscaras: Uma
aproximação de Cervantes e Machado de Assis)”, no Instituto Cervantes local.
Ele afirma que, fora de suas fronteiras, o
escritor brasileiro “é um grande desconhecido”. Em sua opinião, até mesmo no
Brasil os estudos sobre Machado de Assis “não refletiram bem” sua faceta de
grande crítico do sistema de sua época e da escravidão.
Para Maura, o cronista e poeta teve que recorrer
à ironia para falar “na surdina” de um tema que não podia ser encarado
abertamente por ele ser neto de escravos.
Um exemplo disso é “Memórias póstumas de Brás
Cubas” (1881). De acordo com Maura, a verdadeira intenção do autor é “colocar o
dedo na ferida” da sociedade e para isso se serve de uma sutil alegoria para
denunciar que o morto é o próprio Brasil.
A escolha do nome do protagonista, que coincide
com o início do nome do país, “não é à toa” para alguém tão “inteligente e cuidadoso
com a linguagem” quanto era Machado de Assis. Para Maura, “a crítica brasileira
foge” desta interpretação porque “não é fácil aceitar que seu país é um país
morto ou esteve morto”.
O crítico espanhol defende que as obras que o
romancista e dramaturgo escreveu depois de “Memórias póstumas”, como “Dom
Casmurro” ou “Quincas Borba”, são dos livros “mais importantes de sua geração,
não apenas do Brasil, mas de todo o mundo”.
Segundo ele, alguns autores de língua espanhola,
como Jorge Edwards, Julián Ríos e Carlos Fuentes, destacaram a importância de
Machado de Assis, mas o mestre brasileiro ainda carece do merecido
reconhecimento mundial.