Rainer M. Rilke: “Os versos não
são como se acredita, sentimentos apenas (estes nós os temos em demasia), mas
são experiências. Para fazer um verso deve-se ver muitas cidades, seres humanos
e coisas; deve-se aprender a conhecer os animais, sentir o voo dos pássaros e
saber o gesto das pequenas flores quando se abrem ao amanhecer. É necessário
recordar os caminhos já percorridos por lugares desconhecidos, encontros
inesperados e despedidas pressentidas, os dias da infância surgidos de forma
estranha, seguidos de profundas e graves transformações; os dias transcorridos
sós e silenciosos; as manhãs perto do mar; pensar nas altas horas da noite
cheias de murmúrios, levando consigo todas as estrelas do céu.
É preciso também ter lembranças de muitas
noites de amor, das quais nenhuma foi igual à outra; recordar os gestos das
parteiras. Deve-se também estar ao lado dos moribundos, ter sentado ao lado dos
mortos, com uma janela aberta que bate constantemente e tão pouco basta em ter
apenas lembranças. É necessário saber esquecê-las, se são muitas, a ter a
grande paciência para esperar para que voltem, só quando estas lembranças se
fazem em nós sangue, gesto, sem um nome que possamos distingui-las de nós
mesmos, então pode acontecer numa hora insólita brote dentro delas a primeira
palavra de um verso, de um poema e se leve a bom termo”.
(René Karl Wilhelm Johann Josef Maria Rilke, mais conhecido como Rainer Maria Rilke, ou por vezes também Rainer Maria von Rilke, foi um poeta e romancista austríaco. Ele é "amplamente reconhecido como um dos poetas de língua alemã mais liricamente intensos". Ele escreveu versos e prosa altamente lírica. Wikipédia)