Sim, eu acredito em contos de fadas.
Nasci em uma família de classe média, meu pai era
funcionário público, tinha um bom salário, não éramos ricos, mas, vivíamos de
forma satisfatória.
Papai sempre nos dizia, não tenho herança para
deixar para vocês, apenas os estudos.
Eu era muito estudioso, fiz vários concursos
públicos, e foi trabalhar do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, até me
aposentar.
Eu tinha um Tio, chamava-se Antônio, para nós Tio
Toinho.
Era um intelectual, rico, teve vários casamentos,
mas nunca teve filhos.
EU era o filho que ele nunca teve.
Ganhava vários presentes, sempre livros ou discos.
Ganhei um livro de Poemas de Castro Alves; Os
trabalhadores de mar, de Victor Hugo; e, como se dizia antigamente, vários LPs
de músicas eruditas, óperas, etc.
A casa de titio era enorme, e tinha uma biblioteca
gigantesca, um incrível mundo de Borges.
Ali eu poderia morar, morrer...
Eu tinha a chave da casa de titio, mesmo ele não
estando lá, eu poderia entrar, ficava na biblioteca lendo, dormia, etc.
Quando titio adoeceu ele me disse, I., vou deixar
para você de herança e minha biblioteca.
Eu não sabia se ria ou chorava.
Se ria, porque eu nunca conseguiria comprar uma
biblioteca daquelas, o maior tesouro que eu podia imaginar.
Se chorava porque estava prestes a perder para a
morte o meu tio querido, que, entre outras coisas, me apresentou ao universo
das artes.
Após a morte de titio, recebi um telefonema de sua
advogada, Dra. Irivanda, para comparecer ao juízo onde seria lido o testamento,
uma formalidade necessária para a validade do ato.
Durante a leitura do testamento, onde seria dito
que a enorme biblioteca agora era de minha propriedade, fiquei surpreso ao
saber que, além da biblioteca, titio havia me deixado 60 imóveis de aluguel,
para mim, em Recife, São Paulo e Rio de Janeiro.
Por isso, aos 32 anos eu havia me tornado um homem
rico sem qualquer esforço.
Por isso, acredito em contos de fada.