Aos Mestres, com carinho!

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Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

terça-feira, 28 de maio de 2019

A GELADEIRA, por Itárcio Ferreira




Com certeza, no Brasil, uma grande maioria da população, ao abrir a geladeira, só encontrará luz e água, pois, vivemos num país em que a desigualdade social é uma verdadeira guerra, um câncer.

Pensando nisso, amparado por uma situação financeira estável, - mais por sorte, por estar no lugar certo, do que por talento ou mérito, - resolvo dar uma olhada no interior da minha geladeira, já com cinco anos de uso e alguns pontos de ferrugem.

No pequeno compartimento que é o congelador encontro sorvete de açaí e cupuaçu, frutas típicas do Norte do país. O açaí, vermelho, chegou primeiro aqui em Recife, cidade onde moro, abrindo caminhos para o cupuaçu, de cor amarela-branca para bege, ambas já me ajudaram a curar algumas ressacas, sou grato.

Afora as frutas em forma de sorvete, caçambas de gelo para uísque ou coca cola para curar ressaca; embutidos, tipo presunto, salame – meu xodó – e mortadela, esta última mais por opção ideológica.

Logo abaixo do congelador, no corpo da geladeira, algumas marmitas com 300 gramas de comida cada, para o meu filho que gosta de malhar e quer virar o Hulk. Cada marmita contém arroz ou macarrão ou batata doce, acompanhados de carne de frango ou peixe. Como almoço no trabalho, raramente ataco uma das marmitas.

Um resto de pudim, um pedaço de melancia, uma guarnição de sopa completa o corpo da geladeira.

Logo abaixo, a bandeja de guardar verduras e frutas. Vejo: coentro, alho, alface, limão e um pedaço de gengibre para fazer um chazinho.

Da “auditoria” verifico que preciso comprar mais carne de frango e peixe; verifico que sou um privilegiado num país onde ainda existe fome, pobreza e miséria; verifico que o gelo já está no ponto para uma dose de uísque que esquentará o meu corpo e sedará a minha revolta que não consigo transformar em algo revolucionário.