Aos Mestres, com carinho!

Aos Mestres, com carinho!
Drummond, Vinícius, Bandeira, Quintana e Mendes Campos

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Elogio da sombra, poema de Jorge Luís Borges


A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.
O animal morreu ou quase morreu.
Restam o homem e sua alma.
Vivo entre formas luminosas e vagas
que não são ainda a escuridão.
Buenos Aires,
que antes se espalhava em subúrbios
em direção à planície incessante,
voltou a ser La Recoleta, o Retiro,
as imprecisas ruas do Once
e as precárias casas velhas
que ainda chamamos o Sul.
Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;
Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;
o tempo foi meu Demócrito.
Esta penumbra é lenta e não dói;
flui por um manso declive
e se parece à eternidade.
Meus amigos não têm rosto,
as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,
as esquinas podem ser outras,
não há letras nas páginas dos livros.
Tudo isso deveria atemorizar-me,
mas é um deleite, um retorno.
Das gerações dos textos que há na terra
só terei lido uns poucos,
os que continuo lendo na memória,
lendo e transformando.
Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte
convergem os caminhos que me trouxeram
a meu secreto centro.
Esses caminhos foram ecos e passos,
mulheres, homens, agonias, ressurreições,
dias e noites,
entressonhos e sonhos,
cada ínfimo instante do ontem
e dos ontens do mundo,
a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,
os atos dos mortos,
o compartilhado amor, as palavras,
Emerson e a neve e tantas coisas.
Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,
a minha álgebra e minha chave,
a meu espelho.
Breve saberei quem sou.

domingo, 30 de agosto de 2015

Hugh Selwyn Mauberly, poema de Ezra Pound



(trecho)
Vai, livro natimudo,
E diz a ela
Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz
Diz a ela que espalha
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento,
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.
Diz a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós.

Ezra Pound

Tradução de A. de Campos

E se os animais agissem como os humanos?

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sábado, 29 de agosto de 2015

Cântico negro, poema de José Régio

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(trecho) 
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Exportação de cães abandonados no Brasil para servirem de comida na China

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Poema Sujo, poesia de Ferreira Gullar


(trecho)
turvo turvo
a turva
mão do sopro
contra o muro
escuro
menos menos
menos que escuro
menos que mole e duro
menos que fosso e muro: menos que furo
escuro
mais que escuro:
claro
como água? como pluma?
claro mais que claro claro: coisa alguma
e tudo
(ou quase)
um bicho que o universo fabrica
e vem sonhando desde as entranhas
azul
era o gato
azul
era o galo
azul
o cavalo
azul
teu cu
tua gengiva igual a tua bocetinha
que parecia sorrir entre as folhas de
banana entre os cheiros de flor
e bosta de porco aberta como
uma boca do corpo
(não como a tua boca de palavras) como uma
entrada para
eu não sabia tu
não sabias
fazer girar a vida
com seu montão de estrelas e oceano
entrando-nos em ti
bela bela
mais que bela
mas como era o nome dela?
Não era Helena nem Vera
nem Nara nem Gabriela
nem Tereza nem Maria
Seu nome seu nome era…
Perdeu-se na carne fria
perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia

Sandarah - Yousef Al Bagshi



Este filme, de Yousef Al Bagshi, é baseado em uma história verdadeira que aconteceu durante a invasão iraquiana no Kuwait em 1990.

Sandarah é uma palavra kuwaitiana, e significa o local de armazenamento de qualquer quartos, localizado na parte superior das portas.


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Contrato de Separação - Flávia Bittencourt

Por que não mataram todos em 1964? (porquê não mataram todos em 1964)

mataram todos 1964 cartaz

E pensar que aquela senhora deve ter acordado cedo, feito um café delicioso, como só algumas senhoras de certa idade sabem fazer, e depois do café deve ter descido do prédio com o seu cachorro, que deve ter um nome engraçado, um nome carinhoso, e aquele cachorro deve achar que ela é a melhor pessoa do mundo, e, de fato, o cachorro tem que achar isso mesmo, e ela deve ter passeado uns 40 minutos com o seu cachorro, dado bom dia para aquelas pessoas que ela sempre encontra nesta caminhada matinal, e parado para comprar um pão doce que só tem naquela padaria.
E parado para conversar com o jornaleiro, e contado para o jornaleiro que iria participar da manifestação contra o governo, e contado também que iria fazer um cartaz, que ainda tinha energia para lutar pelo Brasil, que iria passar na papelaria, e se ele sabia quanto custava uma cartolina, coisa que o jornaleiro não saberia, e a senhora iria mesmo assim na papelaria, e sairia de lá com aquela cartolina enrolada, e seria uma cena até engraçada, aquela senhora com uma cartolina embaixo de um braço e levando o cachorro e o pão doce com outra mão, e o porteiro perguntando se ela precisaria de ajuda, ela dizendo que não, que estava tudo bem, e lembrando que ele tinha ficado de passar no apartamento pra olhar aquele vazamento, ele, o porteiro, o Zé, dizendo que segunda-feira sem falta, ela respondendo, brincando, “olha lá”, o Zé rindo, ela rindo, o cachorro latindo, o Zé abrindo a porta do elevador de serviço pra ela, apertando o andar dela, antes da porta fechar ela perguntando se ele iria no protesto, ele dizendo que vai ser bem no horário do jogo do Corinthians.
A porta fecha e o Zé não ouvindo a reprovação da moradora, e ela chegando no apartamento, colocando a cartolina na mesa da sala, ligando pro filho, o telefone tocando, ninguém atendendo, a saudade da netinha, que ela já não vê há uns 5 meses, ela comendo um pedaço de pão doce, o melhor pão doce de São Paulo, e quando ela come esse pão doce ela lembra do marido, e ele gostava tanto desse pão doce, e eles comiam juntos, e era um ritual, e depois que ele morreu ficou tão triste comer esse pão doce, e ela sempre sente um frio no peito quando lembra do marido, sente vontade de chorar, pega a cartolina para se distrair e vira a chave do pensamento, ou não vira, matutando o que vai escrever ali.
Tenta ligar para o filho outra vez, o filho é bom pra essas coisas, sempre tem boas ideias, todo mundo diz que é um gênio, mas ele não é bom de atender telefone, não atende de novo, ela vai ter que escrever da cabeça dela, e ela pensando no que vai escrever, ela pegando o canetão e batendo na mesa, a ideia que não vem, o marido morto, o pão doce, o Lula, a Dilma, o Zé Dirceu, o pai militar, o ano em que ainda mocinha, novinha de tudo, conheceu o marido, o primeiro cinema, as mãos dadas, o beijo roubado, o pai militar, orgulhoso de uniforme cintilante, e como ela foi feliz naquele ano, o pai tinha lá suas preocupações, chegava tarde em casa, cansado do trabalho, exausto, morto, mortos todos, e ela pensando que nunca soube exatamente o que o pai fazia no exército, e ela com quase 20 anos já planejava seu casamento, casaria depois de um ano, mas já tinha feito amor com seu futuro marido, e tinha sido bom, se o pai soubesse mataria todos, mataria os dois, seu pai saberia como matar os dois, disso ela tem certeza
Mas aquele tinha sido um ano bom, ela era novinha, estava apaixonada, e tudo parecia nos eixos, e ela pensando em escolher aquele ano para viver pra sempre, não sair do colo quente de 1964, e foi então que ela escreveu, com o português que ela conhece: “porquê não mataram todos em 1964”.
(…)
E ao erguer o cartaz na avenida Paulista, com aquela convicção de quem escreveu “porquê”, a senhora que faz um café delicioso, e que passeia com o cachorro, e que brinca com o porteiro e que come pão doce lembrando do marido, matou todos nós. Um por um, o País inteiro, gente que estava lá, que assistiu de casa ou só viu a foto na internet. Em uma chacina semiótica, matou todos nós, os filhos de 64, os netos, os enteados e os próprios viventes daquele ano, todos mortos, zumbis, terra arrasada, fantasmas de lençóis encardidos gritando buuuuuu.
Nos assustamos todos com o anúncio da nossa morte. Nós, que já morremos faz tanto tempo, morremos outra vez.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

CARLOS MAIA: "Quantas vezes eu me perdi navegando num olhar!"


Eu creio que muitas vezes, na maioria das vezes, as palavras não traduzem bem o que nós estamos pensando. Principalmente a palavra escrita. A entonação, a pausa, são fatores às vezes mais importantes do que o próprio signo ali, escrito num papel ou na web. Um olhar então, ah, um olhar então nem se fala! Quantas vezes eu me perdi navegando num olhar! Linguagem de alma para alma! Intraduzível em palavras! 

Por isso que o trabalho do poeta é muitas vezes tão árduo! É um garimpar de signos! Junto a outros signos! Mas quando achamos a pepita... Ah, quando achamos a pepita, o grande diamante azul, brincadeira... Tem poemas que valem toda uma vida!


O Poder da Empatia

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O Corvo, poema de Edgar Allan Poe

(Trecho)
Numa meia-noite cava, quando, exausto, eu meditava
Nuns estranhos, velhos livros de doutrinas ancestrais
E já quase adormecia, percebi que alguém batia
Num soar que mal se ouvia, leve e lento, em meus portais.
Disse a mim: "É um visitante que ora bate em meus portais´-
É só isto, e nada mais."
Ah! tão claro que eu me lembro! Era um frio e atroz dezembro
E as chamas no chão, morrendo, davam sombras fantasmais,
E eu sonhava logo o alvor e pra acabar com a minha dor
Lia em vão, lembrando o amor desta de dons angelicais
A qual chamam Leonora as legiões angelicais,
Mas que aqui não chamam mais.
E um sussurro triste e langue nas cortinas cor de sangue
Assustou-me com tremores nunca vistos tão reais,
E ao meu peito que batia eu mesmo em pé me repetia:
"É somente, em noite fria, um visitante aos meus portais
Que, tardio, pede entrada assim batendo aos meus portais.
É só isto, e nada mais.
Neste instante a minha alma fez-se forte e ganhou calma
E "Senhor" disse, ou "Senhora, perdoai se me aguardais,
Que eu já ia adormecendo quando viestes cá batendo,
Tão de leve assim fazendo, assim fazendo em meus portais
Que eu pensei que não ouvira" - e abri bem largo os meus portais: -
Treva intensa, e nada mais.
Longamente a noite olhei e estarrecido me encontrei,
E assustado, tive sonhos que ninguém sonhou iguais,
Mas total era o deserto e ser nenhum havia perto
Quando um nome, único e certo, sussurrei entre meus ais -
- "Leonora" - esta palavra - e o eco a repôs entre meus ais.
E isto é tudo, e nada mais.


Tradução de Alexei Bueno

The Passenger (2009) - by Chris Jones

domingo, 23 de agosto de 2015

O Dicionário do Diabo


Por Francisco Santos, em seu blog
Dicionário do Diabo, ou The Devil’s Dictionary no seu título em inglês, é uma obra escrita pelo jornalista americano Ambrose Bierce em meados de 1900. A despeito do título um tanto macabro, o livro não tem nada de sobrenatural, muito pelo contrario. É na verdade apenas uma compilação com definições bastante peculiares do autor para algumas palavras, sem qualquer vínculo semântico real.
Alívio: Acordar cedo, numa manhã fria, e descobrir que é domingo.
Apesar de ter sido escrito há pouco mais de um século, o livro contém definições satíricas tão irreverentes que muitos podem até pensar que foram escritas por algum internauta mais brincalhão dos dias de hoje (Leia-se Internauta Zoeiro), sendo praticamente impossível não fazer uma ligação entre as definições do autor e os maravilhosos memes que encontramos em redes sociais como o Twitter ou Facebook.
Veja algumas das definições que podem ser encontradas no Dicionário do Diabo:
AUTÊNTICO- Indubitavelmente verdadeiro — na opinião de alguém.
BRUXA- (I) Uma mulher feia e repelente, que fez um pacto demoníaco com o Diabo. (2) Uma jovem mulher bela e atraente, muito mais demoníaca que o próprio Diabo.
CALOURO- Um estudante familiarizado com a aflição.
CHATO- PESSOA QUE FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA FALA. Quando desejaríamos que ouvisse.
COMETA- Uma desculpa para andar na rua até as tantas da noite e chegar a casa de manhã embriagado.
CONSOLAÇÃO- Saber que uma pessoa é mais infeliz que nós.
CULPADO- O outro indivíduo
DESUMANIDADE- Uma das qualidades mais destacadas e características da humanidade.
ELOGIO- Um empréstimo que rende juros.
EU- A PESSOA MAIS IMPORTANTE DO UNIVERSO.
Apesar do seu caráter cômico, O Dicionário do Diabo também pode nos fazer refletir sobre algumas questões do nosso cotidiano. No mais, com ou sem reflexão ler este livro vai no mínimo lhe fazer dar boas gargalhadas!

sábado, 22 de agosto de 2015

Soneto de Fidelidade, poema de Vinícius de Moraes


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

A arte de Osamu Obi

Pinturas incríveis de Osamu Obi














Pinturas incríveis de Osamu Obi
Pinturas incríveis de Osamu Obi
Pinturas incríveis de Osamu Obi
Pinturas incríveis de Osamu Obi
Pinturas incríveis de Osamu Obi
Pinturas incríveis de Osamu Obi
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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Eros e pisquê, poema de Fernando Pessoa



..E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.

(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio
Na Ordem Templária De Portugal)

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.